sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

... Liberdade


.... Chegamos ao escritório atrasadíssimos, o P. tinha uma reunião importante com um cliente no exterior, haviam processos a preparar para ele levar, tanto no sexo como no trabalho a nossa sintonia era perfeita, não precisava-mos de falar muito, como se um lesse a mente do outro, rapidamente o trabalho ficou feito e ele conseguiu chegar a horas à reunião. Antes de sair beijou me intensamente e avisou que ia chegar tarde e para eu o esperar no nosso cantinho... claro que esperaria por ele. O dia custou a passar, fazia me falta a presença dele… o seu cheiro… a sua voz… o seu olhar… finalmente chegou a hora de sair… passeei calmamente por aquelas avenidas em direcção ao nosso cantinho, absorta nos meus pensamentos não me apercebi que me estava a aproximar de uma manifestação de estudantes… só dei por ela quando quase fui derrubada por eles, saltei para o patamar de um estabelecimento e fiquei a espera que eles passassem. Aquela massa enorme de jovens a gritarem palavras de ordem transportou-me para o passado, não muito longínquo… a minha adolescência… foi como se tivesse entrado na máquina do tempo, e voltasse ao tempo de liceu, em que participei pela primeira vez numa manifestação... contra uma reforma do ensino conhecida por "reforma Haby"... os meus pais, quando ouviram a noticia na televisão sobre a manifestação dos estudantes , proibiram me logo de participar, utilizando argumentos pouco convincentes para a minha teimosia, mas não valia a pena lhes dar luta, os meus argumentos também não os convenciam e o melhor foi dizer lhes que não ia. Os meus pais tinham nascido e vivido num pais de ditadura e eu vivia num pais livre e o facto de eu ser estrangeira, para mim, não era impedimento para eu participar activamente na politica daquele país, o assunto era ensino eu era estudante logo dizia me respeito.
No dia D eu e minha amiga as únicas estrangeiras da turma decidimos alinhar. Foi emocionante andarmos de escola em escola juntar-mo nos a outros alunos, cada vez era-mos mais, era necessário arranjar transporte para chegar a Paris, quando chegamos ao metro é que percebi a dimensão do nosso poder e o significado de "a união faz a força" os funcionários do metro abriram todas a entradas, para que pudesse-mos passar sem pagar obviamente pretendiam minimizar os prejuízos … as pessoas que estavam dentro do metro saíram para nós entrarmos … o poder das massas também pode ser assustador. Chegamos a Paris todo as avenidas estavam inundadas de estudantes, transito cortado, os helicópteros filmavam aquela massa humana eu e a minha amiga escondia-mo nos para os nossos pais não nos verem na televisão. O que era suposto ser uma manifestação pacifica foi se tornando agressiva, as montras dos estabelecimentos foram partidas, os carros parados nas vias foram danificados, há sempre um grupo desestabilizador nestas ocasiões, a manifestação perdeu interesse, há pessoas que não sabem dar valor a liberdade que têm, eu e a minha amiga deixamos a manifestação um pouco decepcionadas, à noite no telejornal, a minha preocupação era se os meus pais me identificassem naquela multidão. Fui despertada do passado pela sirene da ambulância , alguma coisa já estava a correr mal nesta manifestação. Mudei o meu rumo ficava angustiada ao presenciar violência, quando cheguei ao nosso quarto já era muito tarde e o P ainda não tinha chegado, fui me entretendo a ouvir musica… e entretanto adormeci…

5 comentários:

phantasia disse...

As noções de liberdade são muito relativas... dependem de culturas, religiões e educações...
Mas partilho da tua opinião... devemos manifestar as nossas posições, mas de uma forma consciente, convicta e ordeira... nunca com violência.
Claro que, considerações sobre liberdade à parte, espero que a noite prossiga o seu rumo e o P chegue a casa...

Mary disse...

Olá :) confesso-te que comecei a ler o teu blog à cerca de uma hora e fiquei aqui "presa". Li todos os posts com a máxima de atenção. Adorei a forma como escreves. A intensidade com que vivem essa relação é fascinante. beijinho

Mary disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Bom dia

mais um post fascinante...

Russo

Anónimo disse...

reforma haby, 1975 :)